Leitura da Canção
O curso-oficina “Leitura da canção” foi idealizado pelo professor José Américo Bezerra Saraiva e ministrado em parceria com o professor Ricardo Lopes Leite como parte do Projeto José Aparecido de Oliveira: Programa Linguagens das Letras e dos Números, patrocinado pela Capes e promovido pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em suas sete edições, contemplou professores do ensino público pertencentes à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), nomeadamente: Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe.
O curso-oficina “Leitura da canção” buscava cumprir os seguintes objetivos:
- Fazer refletir sobre a canção como forte meio de expressão cultural brasileiro e, muitas vezes também, dos países do professor em treinamento.
- Apresentar canções para provocar a reflexão sobre sua natureza de gênero sincrético de, no mínimo, letra e melodia e fazer compreender que ler isoladamente cada uma das linguagens é mutilar o objeto.
- Promover a apreensão dos modos de compatibilização entre melodia e letra presentes nas canções brasileiras e, muitas vezes também, nas dos países do professor em treinamento a partir da escuta e da análise de canções.
- Favorecer a compreensão dos efeitos de sentido resultantes da articulação do verbal e do musical na canção.
- Estimular a produção de canções à luz dos modelos examinados.
Serviu-nos de baliza a teoria da Semiótica da Canção, de Luiz Tatit, para a qual a canção é um objeto semiótico sincrético gerado pela integração de letra e melodia. A teoria nos fornece modelos de compatibilização entre o componente verbal e o componente musical, tendo como base os seguintes investimentos gerais: figurativização, tematização passionalização. Operou-se com as categorias de análise a seguir: andamento, concentração, expansão, salto intervalar, graus imediatos, transposição etc.
Cronograma seguido:
- Apresentação da semiótica discursiva, teoria de base para a semiótica da canção, conjuntamente com a escuta de canções brasileiras e canções populares dos países de origem do professor em treinamento para fazer apreender intuitivamente os modos de articulação entre as linguagens verbal e musical.
- Análise dos modos de presença, recessiva ou dominante, das três forças que atuam na construção do sentido do texto cancional: figurativização, tematização e passionalização.
- Escrita individual de uma letra de canção referente a um dado aspecto da cultura dos países de origem do professor em treinamento ou à sua experiência na cidade de Fortaleza, em português ou nos crioulos respectivos.
- Reunião dos professores em grupos de cinco componentes para apresentar o texto produzido e selecionar, mediante argumentação técnica, um dos textos como o mais indicado para melodização de acordo com os modelos de compatibilização entre melodia e letra já apresentados; e realização de um esboço de tratamento melódico do texto selecionado.
- Consolidação do tratamento melódico do texto selecionado com a participação de todos os componentes do grupo, escolha de intérprete(s) para a canção, ensaio, execução, gravação em estúdio das canções produzidas e confecção do encarte do CD.
- Como avaliação e resultado final do curso-oficina, os alunos apresentaram as canções na solenidade de encerramento.
- O CD composto pelos professores em treinamento fez parte do material fornecido pelo curso-oficina e foi levado para seus países de origem para ser divulgado entre seus colegas e alunos.
Na verdade, o curso-oficina ainda estimulava os professores a extraírem por votação, depois de terem realizado a mesma tarefa em suas turmas, uma canção como representante de cada turma para concorrer num festival da canção de final de ano letivo. Nessa ocasião, organizar-se-iam diferentes equipes para a promoção de um grande evento artístico na escola, do qual faria parte o festival da canção.